quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Deu nó

(Foto: Paulo Sérgio / Lancenet)
O Fluminense começou a perder o jogo logo na escalação. Com Deco, Thiago Neves e Felipe como opção, Abel entrou com Wágner, que até hoje não fez jus ao investimento depositado nele. Luxemburgo armou um time traiçoeiro, mantendo duas linhas de 4 muito próximas - uma na intermediária e uma na entrada da área - tirando os espaços de Sóbis e Nem, e obrigando o Flu a fazer passes em profundidade, ora errados ora interceptados. A parede do tricolor gaúcho funcionou e ainda conseguiu jogar, já que Souza, Fernando, Elano e Zé Roberto se aproximavam para trocar passes e iniciar as jogadas de contra-ataque.

Barcos começou o jogo perdendo todas as disputas para Leandro Euzébio, mas recuava até o meio de campo e abria espaços para a velocidade de Vargas, que entrava às costas de Anderson e Carlinhos. Não bastasse isso, os laterais tricolores, principalmente Bruno, subiam mal e deixavam muito espaço para as descidas do Grêmio. O primeiro tempo ainda foi equilibrado, com o Fluminense tentando empurrar o Grêmio para trás. Mas com a adversidade no placar, todos sabiam que Abel iria trocar Wagner por Deco no intervalo. Dito e feito.

A mudança não surtiu o efeito esperado. Pouco depois do segundo gol gremista - nas costas de Bruno - Abel colocou Thiago Neves e Samuel. Ao tentar acertar, errou. Com a saída de Nem, o Flu perdeu profundidade e velocidade, se tornando ainda mais previsível. Além disso, liberou mais o lado esquerdo do Grêmio. Em jogada parecida com o segundo gol, mas do lado inverso, Barcos lançou Vargas nas costas de Carlinhos. O chileno fuzilou Cavalieri para aumentar ainda mais a vantagem do tricolor gaúcho.

O jogo foi até atípico, muitos esperavam um placar mais equilibrado, e não pode servir como base para dizer que o Fluminense virou uma porcaria e o Grêmio favorito ao título. Mas a partida pode ser usada para uma reflexão de ambos os lados.

Abel precisa acordar.

E, ao contrário do que muitos imaginam,

Luxemburgo não está dormindo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Sobre livros, Deuses e ídolos



O ditado popular diz que "nunca devemos julgar um livro pela capa". Em cada dez oportunidades, vamos fazer exatamente o contrário e julgar nas dez vezes. Todos nós. Fomos programados para julgar. Alguém passa na rua, você vê e rotula. Entra uma pessoa nova no seu emprego, você vê e rotula. Um novo aluno na sua turma da faculdade, você vê e rotula. É um ciclo vicioso e eterno. Julgamos sem conhecer, colocamos pré-conceitos antes de tudo. O ditado diz uma coisa, fazemos outra.

Em uma sociedade na qual há mais vilões do que heróis é natural que coloquemos em um pedestal qualquer um que faça algo diferente, mesmo que esse algo seja apenas aquilo que deveria ser feito com regularidade, como ser honesto, por exemplo. Dentro do esporte temos muito disso. Heróis, heróis, heróis. Atletas que se tornam ídolos e ícones de uma geração por se superarem, se destacarem, fazer muito mais e melhor do que todos os outros. Ídolos, ídolos, ídolos. Deuses.

Se a sociedade coloca em pedestal, o esporte leva ao paraíso. Deuses. Imortais. O Olimpo do esporte deve ser um dos lugares mais cheios do reino dos céus. Quantos heróis temos? Quantos Deuses criamos ano após ano? Eu posso ter alguns, você outros e até termos os mesmos. Fato é que são muitos. E todos eles, sem exceção, são julgados pela capa. Livros cheios de histórias bonitas, sem dúvida. Mas, no fundo, no fundo, não conhecemos o seu real conteúdo, seja bom ou ruim.

Lance Armstrong sempre foi um exemplo no esporte. Venceu um câncer, se recuperou e se tornou o maior vencedor da Volta da França, principal competição de ciclismo do mundo. Oscar Pistorius surgiu como mais uma referência. O biamputado se tornou famoso no atletismo paralímpico e olímpico ao correr com suas próteses. Ambos nunca deixaram que a vida arrancasse seus sonhos. Escreveram o próprio livro e nos mostraram. E nós, julgadores que somos, alçamos os dois ao posto de Deuses.

Agora, tanto um quanto outro estão expostos de um jeito que não imaginávamos. O ciclista confessou ter usado doping, em um esquema monstruoso, durante muitos anos. O velocista está envolvido na investigação da morte da namorada, da qual ele é o principal suspeito. Dois livros, duas capas, dois conteúdos desconhecidos. Nunca poderíamos pensar que atletas como os dois virariam notícia por tais fatos. Eles são ídolos, heróis, imortais. Deuses. Sem conhecê-los verdadeiramente, julgamos pela capa bonita que nos foi apresentada e criamos nossa imagem de adoração.

Os fizemos Deuses.

E nos esquecemos que mesmo os Deuses podem cometer erros mortais.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Verdadeiro clássico

Léo Moura comemora o gol de Hernane
Um clássico jogado como clássico. Lá e cá, dois times atacando, procurando o gol e dando espetáculo para as torcidas. Tirando a vergonhosa carga de ingressos colocados à venda, Botafogo e Flamengo podem se orgulhar de terem feito um jogo que possui a alcunha de clássico, um jogo pelo qual valeu a pena parar durante 90 minutos e assistir.

Seedorf e Fellype Gabriel pelo lado do Botafogo e Rafinha e Ibson pelo lado do Flamengo foram os principais destaques. Muito bem assessorados e coadjuvados por Hernane (que fase, até com a canela está fazendo gol), Rodolfo (que perdeu um gol incrível mas foi muito bem) e Lodeiro (sempre regular). Claro que o resultado foi mais positivo para o Flamengo, que garantiu a melhor campanha da primeira fase e o direito de empatar na fase final. Para o Glorioso, faltou um pouco mais de pontaria, principalmente no começo do jogo, quando teve duas boas chances desperdiçadas. Depois, a maioria dos chutes foi em cima de Felipe.

E se os clássicos precisam ter um ingrediente a mais, a canela de Hernane deu o gosto da vitória para os flamenguistas. Do lado alvinegro, faltou entender a invenção de Oswaldo, colocando Julio César como volante, que não funcionou. Também não ajuda o Botafogo a má fase de Bruno Mendes. Se ano passado o jovem atacante conquistou o coração da torcida anotando gols, esse ano a seca está presente. Quando voltar a melhor forma, certamente esse time estará mais forte.

Se a torcida andara com saudades de clássicos que realmente pudessem ser chamados assim, os rivais fizeram questão de acabar com ela. Quem não viu, perdeu.

Independentemente do resultado, valeu o jogo.

Não importa quem perdeu, não importa quem ganhou.

Como nos velhos tempos,

O clássico orgulhou a todos.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Super Bowl: um título e muitas histórias

Quando entraram no campo do Superdome para disputar o Super Bowl XLVII, tanto Baltimore Ravens quanto San Fracisco 49ers tinham motivos de sobra para querer sair dali com o troféu Vince Lombardi. Depois de um jogo emocionante e muito disputado, com direito a 30 minutos de apagão, o time de Baltimore, com apenas 16 anos de existência, sagrou-se campeão pela segunda vez (a outra havia sido em 2000). Dos dois lados havia histórias interessantes, daquelas que faziam os dois times serem merecedores do título. Como o Ravens ganhou, vou contar algumas delas nesse post. São histórias de superação pessoal e profissional. Todas elas, sem exceção, são bonitas e mereciam um final feliz.

Ray Lewis:


Se a franquia de Baltimore tem um rosto, certamente é o deste linebacker. O eterno camisa 52 foi escolhido para jogar no time no mesmo ano de sua fundação, em 1997. Ou seja, ambos estrearam juntos na NFL. Durante toda a carreira, Lewis vestiu somente as cores do Ravens, se tornando o maior nome da história do time, um ídolo sem igual. Em paralelo a isso, seu desempenho em campo, sempre em alto nível, o colocou, possivelmente, como o melhor linebacker da história da liga. Nessa temporada, o líder da defesa do Baltimore teve uma lesão no tríceps que o afastou da maioria dos jogos da temporada regular. Quando o time se classificou para os playoffs, Lewis afirmou que se aposentaria esse ano, independentemente do resultado. Além de superar a lesão e jogar as últimas partidas com uma proteção no braço, mostrando sua garra habitual, o anúncio de que esse seria o último ano da carreira do defensor foi um combustível a mais para o Ravens.

Joe Flacco:



Draftado pelo Ravens em 2008, o QB sempre foi muito criticado por amarelar nos jogos decisivos. Mesmo levando o time à fase final nas temporadas de 2008 (quando se tornou o primeiro calouro a vencer dois jogos de playoff), 2009, 2010 e 2011 (quando perdeu a final de conferência), Flacco nunca foi colocado como um dos principais QBs da liga. Mas, em 2012, enfim, o estigma teve fim. Com participação fundamental na temporada regular e nos playoffs, principalmente com passes longos certeiros, o jogador teve seu talento reconhecido. No jogo de ontem, Flacco lançou 3 TDs, não sofreu nenhuma interceptação e liderou Baltimore do começo ao fim. Consequência: foi escolhido o MVP da final, uma baita ducha de água fria nos seus críticos.

Michael Oher:


Quem viu o filme "Um Sonho Possível", que deu o Oscar de melhor atriz para Sandra Bullock, já sabe por que Oher está aqui. O offensive tackle teve uma vida complicada, o que é retratado durante toda a película. Filho de mãe viciada e de um pai que passava mais tempo na cadeia do que fora dela, o gigante e desengonçado Oher não tomou rumos sombrios por acaso. Selecionado pelo Ravens no draft de 2009, ele foi titular absoluto do time desde então. Agora, três anos depois de chegar à franquia, nada como um Super Bowl para coroar uma vitória pessoal e profissional.

Torrey Smith:



O wide receiver do Ravens precisou passar por uma provação essa temporada. Em setembro de 2012, um dia antes do jogo contra o New England Patriots, o irmão caçula de Smith se envolveu em um acidente automobilístico e morreu. Ao receber a notícia, o jogador pegou um avião, foi ao enterro do irmão e, em menos de 24 horas, estava entrando em campo. Naquele dia, talvez como uma homenagem, o wide receiver fez a melhor partida da carreira. E, com certeza, pensou nisso durante o resto da temporada. Em declaração antes da partida, ele disse que vencer seria uma forma de amenizar a dor da perda, além de homenagear o irmão, um dos seus maiores incentivadores.

Anquan Boldin:



O veterano wide receiver chegou ao Ravens em 2010, após sete anos no Arizona Cardinals. Um dos principais recebedores da liga, Boldin viu em Baltimore a chance de, enfim, conquistar o Super Bowl. Em 2009, quando ainda jogava em Arizona, Boldin perdeu o Super Bowl XLIII de forma dramática. Naquela ocasião, o Steelers marcou o TD da vitória quando faltavam poucos segundos para o fim do jogo. Agora, 4 anos depois, como um dos destaques do time, ele pôde comemorar.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A apoteose de Rafinha

(Foto: Rudy Trindade / VIPCOMM)
Quem diria que um pequeno e magrelo garoto, disputando o seu primeiro clássico, poderia fazer o que fez? Ninguém esperava que Rafinha pudesse decidir o jogo contra o maior rival. Provavelmente nem ele esperava isso. O jogo superou todas as expectativas e o camisa 11 rubro-negro tratou de chamar a atenção para si sem a menor timidez ou embaraço. 

Talvez nem fosse o melhor dia para dar um show. Clássico em uma quinta-feira, horário insólito, ainda nas rodadas iniciais, e ambos os clubes em reconstrução. Seria o típico jogo para empate. Seria, quem sabe, se Rafinha não estivesse em campo. Se Rafinha não corresse tanto. Se Rafinha não participasse dos quatro gols. Se Rafinha não marcasse um golaço. Se Rafinha não fosse Rafinha. Mas, afinal, quem é Rafinha?

Ao sair do CFZ para o Fla, o jogador serviu como muleta para uma polêmica. Capitão Léo acusou Zico de prejudicar o clube da Gávea no acordo CFZ-Flamengo (relembre aqui). À época, um dos jogadores que chegou ao rubro-negro foi o atacante. Na base, Rafinha teve bom desempenho, mas sempre chamou atenção pelo aspecto franzino. E pela velocidade, claro.

Nos profissionais, era difícil imaginar que ele seria titular e, mais ainda, começaria a fazer a diferença. Jogo após jogo, o rendimento de Rafinha vem crescendo e isso culminou com uma grande atuação justamente contra o Vasco. Ao participar de todos os gols e infernizar a defesa adversária, inclusive Dedé, Rafinha se transformou em um pequeno notável. Ainda há muito o que fazer? Sim, mas o começo é animador, principalmente para a torcida do Flamengo, que anda tão carente de ver jogadores vindos da base fazerem sucesso e, ao mesmo tempo, pode ter esperança em ter um time qualificado.

O Carnaval é só na semana que vem, mas Rafinha antecipou a festa rubro-negra.

Desfilou pelo gramado do Engenhão como se fosse sua apoteose particular e fez um baile de proporções inversas.

Pequeno artista,

Grande Carnaval.
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