O ditado popular diz que "nunca devemos julgar um livro
pela capa". Em cada dez oportunidades, vamos fazer exatamente o contrário
e julgar nas dez vezes. Todos nós. Fomos programados para julgar. Alguém passa
na rua, você vê e rotula. Entra uma pessoa nova no seu emprego, você vê e
rotula. Um novo aluno na sua turma da faculdade, você vê e rotula. É um ciclo
vicioso e eterno. Julgamos sem conhecer, colocamos pré-conceitos antes de tudo.
O ditado diz uma coisa, fazemos outra.
Em uma sociedade na qual há mais vilões do que heróis é natural
que coloquemos em um pedestal qualquer um que faça algo diferente, mesmo que
esse algo seja apenas aquilo que deveria ser feito com regularidade, como ser
honesto, por exemplo. Dentro do esporte temos muito disso. Heróis, heróis,
heróis. Atletas que se tornam ídolos e ícones de uma geração por se superarem,
se destacarem, fazer muito mais e melhor do que todos os outros. Ídolos,
ídolos, ídolos. Deuses.
Se a sociedade coloca em pedestal, o esporte leva ao paraíso.
Deuses. Imortais. O Olimpo do esporte deve ser um dos lugares mais cheios do
reino dos céus. Quantos heróis temos? Quantos Deuses criamos ano após ano? Eu
posso ter alguns, você outros e até termos os mesmos. Fato é que são muitos. E
todos eles, sem exceção, são julgados pela capa. Livros cheios de histórias
bonitas, sem dúvida. Mas, no fundo, no fundo, não conhecemos o seu real
conteúdo, seja bom ou ruim.
Lance Armstrong sempre foi um exemplo no esporte. Venceu um
câncer, se recuperou e se tornou o maior vencedor da Volta da França, principal
competição de ciclismo do mundo. Oscar Pistorius surgiu como mais uma
referência. O biamputado se tornou famoso no atletismo paralímpico e olímpico ao
correr com suas próteses. Ambos nunca deixaram que a vida arrancasse seus
sonhos. Escreveram o próprio livro e nos mostraram. E nós, julgadores que
somos, alçamos os dois ao posto de Deuses.
Agora, tanto um quanto outro estão expostos de um jeito que
não imaginávamos. O ciclista confessou ter usado doping, em um esquema
monstruoso, durante muitos anos. O velocista está envolvido na investigação da
morte da namorada, da qual ele é o principal suspeito. Dois livros, duas capas,
dois conteúdos desconhecidos. Nunca poderíamos pensar que atletas como os dois
virariam notícia por tais fatos. Eles são ídolos, heróis, imortais. Deuses. Sem
conhecê-los verdadeiramente, julgamos pela capa bonita que nos foi apresentada
e criamos nossa imagem de adoração.
Os fizemos Deuses.
E nos esquecemos que mesmo os Deuses podem cometer erros mortais.
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