terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Sobre livros, Deuses e ídolos



O ditado popular diz que "nunca devemos julgar um livro pela capa". Em cada dez oportunidades, vamos fazer exatamente o contrário e julgar nas dez vezes. Todos nós. Fomos programados para julgar. Alguém passa na rua, você vê e rotula. Entra uma pessoa nova no seu emprego, você vê e rotula. Um novo aluno na sua turma da faculdade, você vê e rotula. É um ciclo vicioso e eterno. Julgamos sem conhecer, colocamos pré-conceitos antes de tudo. O ditado diz uma coisa, fazemos outra.

Em uma sociedade na qual há mais vilões do que heróis é natural que coloquemos em um pedestal qualquer um que faça algo diferente, mesmo que esse algo seja apenas aquilo que deveria ser feito com regularidade, como ser honesto, por exemplo. Dentro do esporte temos muito disso. Heróis, heróis, heróis. Atletas que se tornam ídolos e ícones de uma geração por se superarem, se destacarem, fazer muito mais e melhor do que todos os outros. Ídolos, ídolos, ídolos. Deuses.

Se a sociedade coloca em pedestal, o esporte leva ao paraíso. Deuses. Imortais. O Olimpo do esporte deve ser um dos lugares mais cheios do reino dos céus. Quantos heróis temos? Quantos Deuses criamos ano após ano? Eu posso ter alguns, você outros e até termos os mesmos. Fato é que são muitos. E todos eles, sem exceção, são julgados pela capa. Livros cheios de histórias bonitas, sem dúvida. Mas, no fundo, no fundo, não conhecemos o seu real conteúdo, seja bom ou ruim.

Lance Armstrong sempre foi um exemplo no esporte. Venceu um câncer, se recuperou e se tornou o maior vencedor da Volta da França, principal competição de ciclismo do mundo. Oscar Pistorius surgiu como mais uma referência. O biamputado se tornou famoso no atletismo paralímpico e olímpico ao correr com suas próteses. Ambos nunca deixaram que a vida arrancasse seus sonhos. Escreveram o próprio livro e nos mostraram. E nós, julgadores que somos, alçamos os dois ao posto de Deuses.

Agora, tanto um quanto outro estão expostos de um jeito que não imaginávamos. O ciclista confessou ter usado doping, em um esquema monstruoso, durante muitos anos. O velocista está envolvido na investigação da morte da namorada, da qual ele é o principal suspeito. Dois livros, duas capas, dois conteúdos desconhecidos. Nunca poderíamos pensar que atletas como os dois virariam notícia por tais fatos. Eles são ídolos, heróis, imortais. Deuses. Sem conhecê-los verdadeiramente, julgamos pela capa bonita que nos foi apresentada e criamos nossa imagem de adoração.

Os fizemos Deuses.

E nos esquecemos que mesmo os Deuses podem cometer erros mortais.

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