Edmundo rebola na frente de Gonçalves e provoca o zagueiro alvinegro |
Devolvam o meu futebol, pois roubaram ele de mim.
O meu futebol era o verdadeiro futebol arte, folclórico, moleque. Tinha malandragem na medida certa. Nos tempos em que reinava o meu futebol, reinavam também a alegria e as brincadeiras sadias entre rivais. Adversários, inimigos dentro de campo, cúmplices de gozações fora dele. O vencedor pegava no pé do amigo, derrotado, que daria o troco dias depois, quando os papéis se invertessem. Tudo na paz, na amizade, na boa, tudo dentro do espírito esportivo.
No meu futebol os jogadores eram espertos, malandros, mas na medida certa. Hoje, cada contato é um mergulho, a busca sórdida por uma falta, um pênalti, um cartão para o adversário. E ai dele, do jogador rival, se resolver provocar jogadores e torcedores que estão defendendo as outras cores envolvidas na disputa. "É desrespeito, é absurdo, é um abuso, não pode, quebra ele!", vão gritar os arquibaldos. E os adversários vão quebrar, vão meter o dedo na cara, vão mostrar que são machos. Até a semana seguinte, quando os machos do último jogo serão os engraçadinhos da vez. No meu futebol o Romarinho podia correr na direção da torcida adversária, mostrar o escudo do seu time, fazer gesto pedindo silêncio, podia, enfim, sacanear. Assim como faziam Renato Gaúcho, Romário, Edmundo, Edílson e tantos outros. E o assunto acabava ali, dentro das quatro linhas. Quem foi sacaneado hoje, sacaneava amanhã.
Hoje, meu futebol foi roubado. Se o goleiro mata a bola no peito, leva pito do atacante. Coitado do Heguita e do Jorge Campos, mestres na arte de fazer gracinhas embaixo da trave, se agarrassem nos tempos atuais. Se o atacante comemora um gol de forma diferente, ironizando o rival, leva amarelo, o jogador adversário vem tirar satisfação e o pau quebra. Isso quando não aparece um tal de STJD para te suspender por dar um simples beijo no escudo do Botafogo querendo provocar o Flamengo, não é, Loco Abreu? Fora a violência descabida, desmedida, de torcidas organizadas, que matam, brigam, assustam e ameaçam torcedores de bem, jogadores e dirigentes.
O futebol atual está invertendo valores. O que deveria ser uma diversão, motivo de conversa animada, está virando guerra. Malandro não é o cara que sabe zoar ou ser zoado, é aquele que tira vantagem em cima do outro que, automaticamente, vira otário. O futebol virou o palco dos atores, todos vilões, que tentam se dar bem em cima dos rivais.
O futebol perdeu aquilo que tinha de melhor. A brincadeira sadia dentro e fora dos campos, a risada, a gargalhada amiga.
Devolvam o meu futebol, pois roubaram ele de mim.
E colocaram essa merda no lugar.
Que isso, maluco!!
ResponderExcluirFalou tudo. Mandou bem demais!!